Praia - A maior parte da mão-de-obra dos hotéis de luxo na ilha do Sal, em Cabo Verde, provém de moradores dos bairros degradados, facto que interpela a uma reflexão, no sentido de os grandes operadores turísticos também contribuírem na criação de condições habitacionais para seus trabalhadores.
Considerando que os trabalhadores, habitantes dos bairros de Alto São João, Alto Santa Cruz e Alto Saco, servem em hotéis de luxo e no entanto moram e vivem em condições degradantes, algumas críticas provenientes de sindicalistas e população questionam se não haverá maneira de se encontrar uma plataforma entre o Governo, a Direcção-Geral do Trabalho e os operadores turísticos, para resolver esse "handicap", dando melhores condições de habitabilidade aos seus servidores.
Outros vão mais longe questionando como é possível tirar proveito de pessoas que vivem nessas condições, enquanto se vai enriquecendo.
O sindicalista Mário Correia, lamentando esta "triste realidade", questiona a razão pela qual os sindicatos não actuam nesta matéria, ao mesmo tempo que atribui responsabilidades ao Governo pela situação.
"Fala-se em trabalho digno, mas nunca vi nenhuma medida para propiciar trabalho digno. Quem recebe um salário de 20, 22, 25 ou 30 contos - estou a falar de valores líquidos -, nos hotéis de cinco estrelas, no Sal ou na Boa Vista, não consegue ter uma casa digna para morar", afirmou.
Perante o cenário, Mário Correia, cuja opinião é também corroborada por outras pessoas, a alternativa, o recurso que resta é, de facto, improvisar barracas ou morar em grupos para diminuir as despesas já que, ilustra, um espaço de 4 metros por 4, sem casa de banho dentro, custa à volta de 12 mil escudos... qualquer coisa como metade do salário.
"Cabe o Governo toda a responsabilidade no sentido de criar condições. As empresas para as quais os trabalhadores trabalham, dedicam o seu esforço, têm de pagar. Pagar um outro salário para que também tenham condições dignas de habitabilidade", sublinhou.